Pagode leste do templo de Yakushiji (Província de Nara)
Este pagode foi concluído em 730 d.C.
Historicamente, a arquitetura no Japão foi influenciada pela arquitetura chinesa, ainda que existam muitas diferenças entre as duas. Enquanto a madeira exposta nas construções chinesas é pintada, em construções japonesas ela tradicionalmente não é. Também, a arquitetura chinesa foi baseada em um estilo de vida que inclui o uso de cadeiras, enquanto no Japão as pessoas geralmente sentavam no chão (um costume que começou a mudar no período Meiji [1868-1912])
A arquitetura no Japão também foi influenciada pelo clima. O verão na maior parte do Japão é longo, quente e úmido, um fato que claramente se refletiu na maneira que as casas são construídas. As casas tradicionais são elevadas de tal maneira que o ar pode se mover ao redor e debaixo dela. O material escolhido foi madeira porque é fresco no verão, quente no inverno e mais flexível quando sujeito a terremotos.
No período Asuka (593-710), o Budismo foi introduzido no Japão pela China, e então templos budistas foram construídos na maneira continental. Desde esse período em diante a arquitetura budista teve uma influência profunda na arquitetura no Japão. O templo Horyuji, originalmente construído em 607 e reconstruído logo após um incêndio em 670, possui a estrutura em madeira mais antiga do mundo. E está entre os monumentos budistas na área do Horyuji que foram registrados como patrimônio da humanidade pela UNESCO em 1993.
No período Nara (710-794), uma capital chamada Heijokyo foi desenhada em Nara de uma maneira parecida com a capital chinesa, por onde as ruas eram dispostas como em um tabuleiro de Damas. Muitos templos e palácios desse período foram construídos no estilo Tang da China.
No período Heian (794-1185), elementos chineses estavam totalmente assimilados e um estilo verdadeiramente nacional japonês se desenvolveu. As casas da nobreza em Heiankyo, hoje Kyoto, eram construídas no estilo shinden-zukuri, no qual as principais construções e quartos de dormir ficam no centro e são conectados a outros apartamentos ao redor por corredores.
Santuário Izumo
Na foto, o edifício principal do santuário (honden) desse importante santuário na Província de Shimane, que é construído no estilo taisha-zukuri. O prédio atual foi construído em 1744; o seu design é considerado um reflexo do estilo residencial do período Kofun (cerca de 300-710). (foto cortesia do Santuário Izumo)
Muitos castelos foram construídos no século XVI, quando os senhores feudais dominavam a sociedade japonesa. Embora construídos para defesa militar, esses castelos também eram usados para realçar o prestígio dos senhor feudal local e suas residências. Alguns deles ainda existem atualmente, admirados especialmente pelas suas tenshukaku (torres de castelo). As construções usadas como áreas residenciais dentro do castelo, e também os dormitórios de templos budistas, eram frequentemente construídos no estilo de arquitetura doméstica conhecida como shoin-zukuri, que incorporou novas características – incluindo painéis deslizantes cobertos por papel translúcido ou opaco (shoji e fusuma, respectivamente) e esteiras (tatami - pranchas de junco que constituem o assoalho) – que continuam a ser elementos chave nas casas japonesas tradicionais. O mais magnífico exemplo existente desse estilo é o Palácio Ninomaru, do século XVII, do Castelo de Nijo em Kyoto.
No século XVII, o estilo shoin-zukuri foi combinado com atributos característicos da sukiya, a casa de chá na qual a cerimônia do chá é realizada, para criar o estilo sukiya-zukuri de arquitetura doméstica. Caracterizada por uma delicada sensibilidade, finos elementos de madeiras e simplicidade sem ornamentos, o melhor exemplo existente desse estilo é o Palácio Isolado Katsura (Kyoto), que é famoso por sua mistura harmoniosa de construções e paisagem de jardim.
Quando o budismo veio para o Japão no século VI, palácios dedicados á adoração do Buda foram construídos, sendo suas formas arquitetônicas originais da China e da Coréia. No complexo de cada templo foram erguidas numerosas construções para servir às necessidade dos monges e freiras que viviam ali e, tão importante quanto isso, oferecer uma estrutura onde os adoradores pudessem se reunir.
No século VIII, um conjunto de construções compreendia sete estruturas básicas: o pagode, o salão principal, sala de palestras, torre do sino, repositório para sutras, dormitório e refeitório. Cercando o complexo do templo inteiro havia um muro feito de argila com portões em cada lado. Era comum que um portão tivesse dois andares.
O salão principal continha os objetos mais proeminentes de adoração. A sala de palestras, que nos templos mais antigos era geralmente a maior estrutura, era usada por monges como um lugar de estudo, instrução e para a realização de rituais.
Dois tipos de torres predominaram: uma com sinos que anunciavam as horas de ritos religiosos a cada dia e outra na qual os textos canônicos eram guardados (o repositório de sutras). Atrás ou ao lado da área interna ficavam refeitórios e dormitórios.
Os prédios nos complexos dos templos eram geralmente dispostos em padrões geométricos, com variações entre as seitas. Os prédios principais em templos Zen eram frequentemente dispostos em um linha e conectados por corredores cobertos e os complexos do templo do Budismo da Terra Pura geralmente incluíam jardins e lagoas.
Os seguidores do Xintoísmo acreditam que um kami (divindade) existe virtualmente em todo objeto ou fenômeno natural, desde vulcões ativos e lindas montanhas, até árvores, pedras e cachoeiras. Santuários xintoístas são lugares aonde as kami são reverenciadas e também um local de adoração para as pessoas.
Ao invés de seguir um arranjo estabelecido, os prédios de um santuário são situados de acordo com o ambiente. De um distinto portão torii do recinto, um caminho ou uma estrada levam ao prédio principal do santuário, tudo marcado por lanternas de pedra. Para preservar a pureza da área do santuário, bacias de água são fornecidas para que os adoradores possam lavar suas mãos e bocas. Komainu, pares de figuras parecidas com leões colocadas em frente de cada portão ou salão principal de vários santuários, servem como seus guardiões.
Castelo Himeji
Localizado na cidade de Himeji na Província de Hyogo. O Castelo Himeji é conhecido como o “Castelo da Garça Branca” em razão das suas paredes brancas elevadas
(foto cortesia do Getty Images)
Salões principais temporários foram construídos para abrigar as kami em ocasiões especiais. Esse estilo de construção data de 300 a.C. O prédio principal do santuário de Sumiyoshi em Osaka é similar a esse tipo de construção temporária e acredita-se que ele preserva a aparência de construções religiosas antigas.
O outro grande estilo de salão principal retira sua forma simples de armazéns e depósitos para tesouros do Japão pré-histórico. O melhor exemplo desse estilo é o Santuário Ise, na Província de Mie. O santuário interno é consagrado à Amaterasu Omikami, a deusa do Sol. O santuário externo é dedicado à deusa dos grãos, Toyouke no Omikami.
Elementos da arquitetura residencial podem ser vistos no prédio principal do santuário Izumo na Província de Shimane, como evidenciadas por colunas postas diretamente fixadas no solo e pisos elevados.
A natureza do culto Xintoísta mudou, seguindo a introdução do budismo, e construções de santuários pegaram alguns elementos emprestados da arquitetura budista. Por exemplo, muitos santuários eram pintados no estilo chinês: colunas vermelhas e paredes brancas.
Era uma tradição reconstruir prédios de santuários regularmente para purificar o lugar e renovar os materiais (uma prática que continua a ser seguida no Santuário de Ise a cada 20 anos). Por essa razão, e também como um resultado de incêndios e outros desastres naturais, as construções existentes mais antigas datam apenas dos séculos XI e XII.
O interior das casas japonesas no passado era virtualmente aberto, até mesmo sem divisórias para dividir espaços individuais. Gradualmente, à medida que mais consideração foi dada aos espaços individuais e suas funções, tais como comer, dormir ou vestir-se, biombos (byobu) começaram a ser usadas. Shoji e o fusuma, que ainda são encontradas em muitas casas, surgiram mais tarde. Embora elas mal sirvam como barreiras sonoras, elas conseguem oferecer alguma privacidade e podem ser removidas para abrir o espaço todo (exceto, é claro, pelas colunas que suportam a casa). O shoji também permite a entrada da luz.
A maneira como os japoneses veem o interior e o exterior da casa é outro aspecto central do design tradicional. Ao invés de entender o interior e o exterior como dois ambientes distintos, eles são pensados como elementos contínuos. Esse conceito é incorporado na varanda (engawa) japonesa, que figura como uma espécie de espaço de transição de dentro para fora da casa. A nure-en, que é colocada ao lado da casa e fica molhada quando chove, é uma variação da engawa.
De um ponto de vista estético, a casa tradicional possui um design feito para pessoas que estão sentadas e não em pé. Portas, janelas e alcovas são dispostas para que as obras de artes dentro da casa e o jardim do lado de fora possam ser vistos apropriadamente quando a pessoa está sentada.
Apesar das mudanças que a modernização tem trazido para o estilo das casas, o estilo tradicional não sumiu. Mesmo em casas ocidentalizadas, ainda é comum achar quartos nos quais o chão é todo coberto por tatami, e continua a ser um costume remover os sapatos antes de entrar na casa.
Técnicas arquitetônicas modernas foram introduzidas no Japão a partir do começo da Restauração Meiji em 1868. As primeiras construções resultantes desse esforço combinavam métodos tradicionais japoneses de construção com madeira e métodos e design ocidentais. A escola fundamental Kaichi (1876) na cidade de Matsumoto, Província de Nagano, é um típico enfoque híbrido adotado para escolas construídas em todo o país.
Escola Fundamental Kaichi
Construída em 1876, esse prédio de escola em Matsumoto, Província de Nagano, é um exemplo bem preservado de um estilo híbrido usado no início do período moderno da arquitetura japonesa.
(foto cortesia do Getty Images)
Nos anos 1880, opiniões reacionárias se viraram contra a corrida em direção a ocidentalização mesmo na arquitetura e, então, modelos asiáticos foram defendidos. Após a I Guerra Mundial, a arquitetura japonesa tradicional passou por uma reavaliação quando arquitetos como Frank Lloyd Wright (1869-1959), dos Estados Unidos, e Bruno Taut (1880-1938), da Alemanha, vieram trabalhar no Japão.
Os anos que seguiram a II Guerra Mundial viram a continuação nos esforços para conciliar a arquitetura moderna e a tradicional. Kenzo Tange, um dos arquitetos japoneses mais famosos e influentes do pós-guerra, conseguiu fundir arquitetura japonesa tradicional com avanços científicos e tecnológicos. Nas décadas de 1950 e 1960, ele projetou vários edifícios notáveis, incluindo o Estádio Nacional Yoyogi para os jogos olímpicos de 1964 em Tóquio.
O prédio da estação de Tóquio, construído primeiramente em 1914 sob a influência da arquitetura ocidental, tem passado por inúmeras renovações. Em 2012, ele foi completamente restaurado à forma original.
Edifício Marunouchi da Estação de Tóquio
A dignidade da época de sua fundação foi reproduzida
Para o Japão, que é frequentemente atingido por terremotos, o desenvolvimento de construções que sejam resistentes a esses fenômenos naturais tem sido um problema constante na arquitetura. O primeiro arranha-céu do Japão, o prédio Kasumigaseki, foi concluído em 1968 usando a mais recente tecnologia resistente a terremotos. Um grande número de arranha-céus têm sido construídos desde então, incluindo aqueles em Nishi-Shinjuku em Tóquio (1971-) e a Landmark Tower (1993, 296 metros de altura) em Yokohama.
Arata Isozaki, que, quando era jovem, havia trabalhado sob a orientação de Tange, foi o responsável por conduzir um redirecionamento das prioridades arquitetônicas para que se distanciassem da comercialização irrestrita. O seu trabalho e produção literária tiveram uma grande influência nas gerações mais jovens de arquitetos. Os anos 1970 também foram palco para o aparecimento de arquitetos que destacaram a importância de um enfoque artístico para a arquitetura, abandonando a ênfase anterior em competência técnica.
Centro Nacional de Arte, Tóquio
O Centro Nacional de Arte possui um design inovador. Foi aberto em 2007, e é situado no distrito de Roppongi, em Tóquio.
O prédio, desenhado pelo arquiteto Kisho Kurokawa, tem o maior espaço de exposições no Japão.
(foto cortesia do Getty Images)
Escritórios de arquitetura doméstica se mantiveram ocupadas durante o elevado desempenho da década de 80, assim como alguns grandes arquitetos estrangeiros que foram convidados para trabalhar no Japão. O colapso da “bolha econômica” do Japão no início dos anos 1990 causou uma desaceleração na indústria da arquitetura. Muitos arquitetos japoneses, no entanto, continuam bem avaliados no Japão e em outros lugares, e um grande número de arquitetos estrangeiros acham mercado para trabalhar no Japão e essa é uma tendência que tem se expandido até para áreas locais. Dentre os trabalhos excepcionais dos anos 1990 estão o Fórum Internacional de Tóquio (1997) de Rafael Vinoly e o Edifício do Governo Metropolitano de Tóquio (1991) de Kenzo Tange.
Nos anos 1980 e 1990, arquitetos japoneses foram crescentemente recrutados para trabalhos no exterior. Dentre eles estavam Isozaki, chamado para fazer o Museu de Arte Contemporânea (1986) em Los Angeles; Tange, para o Centro OUB (Overseas Union Bank) de Singapura (1986); Kurokawa Kisho, para a Pacific Tower (1992) em Paris; e Tadao Ando, para o Espaço de Meditação (1995) no complexo da UNESCO em Paris. Ando tem sido especialmente bem recebido no exterior. Ele tem recebido vários prêmios internacionais, tais como o Prêmio de Arquitetura Pritzker de 1995, dado pela Fundação Hyatt, e a Medalha de Ouro Real de 1997, concedida pelo Instituto Real de Arquitetos Britânicos.
Em 2006 Toyo Ito também foi premiado com a Medalha Real de Ouro pelo Instituto Real de Arquitetos Britânicos. Além disso, Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa ganharam juntos o Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2010, em reconhecimento pelo excepcional trabalho do seu escritório de arquitetura SANAA (Sejima, Nishizawa e Associados), sendo os mais notáveis o Museu Ogasawara (Ida, Província de Nagano, 1999) e o Museu do Século 21 de Arte Contemporânea de Kanazawa (Província de Ishikawa, 2004).
Em 2012, a Tóquio Skytree, maior torre de transmissão independente do mundo, com 634 metros, entrou em operação comercial. Ela caracteriza-se por uma silhueta elegante do topo para cima, que possui “distorção” e “arqueamento” vistos na arquitetura japonesa tradicional. Já um novo ponto de referência aqui, a Tóquio Skytree muda sua visão dependendo do local onde o espectador está e o modo como ele olha para ela.
Tóquio Skytree
A mais alta torre de transmissão do mundo